sábado, 20 de fevereiro de 2010

Escolas Famílias Agrícolas: importância para o jovem rural

Plantar, Cultivar plantas, cuidar do pomar, criar animais, tirar leite de vaca e ao mesmo tempo estudar. Essa é a vida de Elisângela Paulina Rosa, 16 anos, estudante da Escola Família Agrícola (EFA) Paulo Freire, localizada na zona Rural, a 9 km do distrito de Rio Preto, local mais próximo da comunidade onde a estudante mora.

Elisângela é filha de agricultores e sempre morou no campo. Porém, teria que deixá-lo se quisesse continuar com seus estudos. “Aqui no campo é assim, é muito difícil estudar. Se eu quisesse me formar ia ter que ir para a cidade”, conta ela.

Foi então que conheceu a escola família agrícola no ano passado. Fez a seleção e foi escolhida para entrar no 1º ano do Ensino Médio. Hoje, ela é aluna do 2º ano e destaca a importância da educação para o jovem rural. “Apesar de morar no meio rural não conhecia direito sobre os cuidados no campo e a EFA me permitiu um maior conhecimento sobre ele. Sobre como cuidar das plantas, dos animais etc”, diz. “Além disso, é bom estudar porque a gente conhece realidades diferentes, novas pessoas”, acrescenta Elisângela.

Como todo aluno da EFA, ela passa pelo processo de alternância, em que fica 15 dias na escola em regime de internato e os outros 15 dias na propriedade da família, levando os conhecimentos que aprendeu para casa. “A escola família agrícola não forma só o aluno, mas toda a família”,assegura a presidente da Associação Mineira das Escolas Famílias Agrícolas (AMEFA), Faustina Lopes da Silva.

Em 2011, no ano que vem, é o ano de formatura de Elisângela, em que ela sairá da escola com o curso de Técnico Agrícola, podendo exercer a profissão. Apesar de ainda não saber se vai querer permanecer na zona rural ou procurar outra fonte de renda, a estudante explica os benefícios que a EFA trouxe para sua vida. “Se não fosse a Escola Família Agrícola eu acho que não iria me formar, ia parar onde estava”, afirma.
A EFA é uma oportunidade única na vida, pois pra gente estudar é muito difícil, muitos desistiam e paravam os estudos. E com a chegada da escola família agrícola permitiu com que as pessoas se formassem e pudessem permanecer aqui na zona rural”, finaliza.

Parecida com a história de Elisângela é a história de Santos Batista de Oliveira, ex-aluno da Escola Família Agrícola Bontempo, localizada na Comunidade Córrego do Brejo, zona rural de Itaobim.

Santos também é filho de pequenos agricultores e da mesma forma que Elisângela passou praticamente sua vida inteira no campo, na comunidade de Tombos, a mesma em que seus pais foram criados.
Nascido em 1983, só começou a estudar aos sete anos de idade, tendo que caminhar 3 km por dia até chegar à escola. As dificuldades com os estudos foram muitas, saía cedo e só voltava à noite, a roupa sujava com a poeira ou a lama das estradas, pegava doenças etc. E assim, com muito custo ele chegou a 7ª série, porém desistiu “já não aguentava mais”, diz ele.

Porém, com o incentivo dos colegas voltou a estudar no ano seguinte, uma vez que faltava pouco para se formar. Mas, mesmo com a volta as aulas as preocupações e as dificuldades não pararam. “Ficava preocupado, pois pensava que depois que terminasse a oitava série teria que ir para a cidade grande para continuar estudando”, conta Santos. Ele conseguiu completar o Ensino Fundamental aos 19 anos.

E assim, conheceu a EFA Bontempo, que trouxe muita alegria, pois poderia estudar e continuar onde sempre gostou de morar: no campo. “Foi difícil, pois tinha muita concorrência, mas consegui ser selecionado. E depois veio a recompensa para quem já havia perdido tanto tempo na vida”, conta ele. O ex-estudante cursou a escola família agrícola entre os anos de 2003 a 2005. Tornando-se, após formado, Técnico em Agropecuária.

Com quatro meses que havia terminado o Ensino Médio, Santos conseguiu uma nova conquista. Participou de uma seleção de técnicos e entre quatro concorrentes foi o selecionado para trabalhar no Centro Agroecológico de Tamanduá (CAT) onde permanece até hoje, trabalhando com Agroecologia. “E tudo isso graças a Escola Família Agrícola”, conclui.

A pedagogia de alternância como forma de educar

O modelo escola Família Agrícola surgiu na França, em 1935 e era conhecida como Maison Familiale Rurale, que em português significa casa familiar rural.No Brasil, a modalidade começou a ser executada em 1968, no Espírito Santo.

Mas, foi somente na década de 80 que ficou marcada a solidificação das experiências das Escolas Famílias Agrícolas no Espírito Santo e de lá, elas se espalharam para os outros estados, como Minas Gerais.

Foi então que em 1983, foi criada a primeira EFA Mineira, que se localizava em Muriaé, na zona da Mata. Ela surgiu devido a iniciativa de um grupo de pessoas ligadas às comunidades Eclesiais de base da região, juntamente com a Prefeitura do local.

Aliado a essa experiência, em 1990, foi criada a Escola Rural Padre Adolfo Kolping, em Formiga, tendo como objetivo ser uma escola de pedagogia de Alternância, tal como são as escolas famílias agrícolas atuais.

Essas duas primeiras experiências, devido à falta de articulação entre elas não tiveram bons resultados. Porém, foi também em 1990, que foi criada a Escola Família Agrícola Chico Mendes, em Conselheiro Pena. Junto com ela se seguiram várias outras escolas famílias agrícolas, consolidando assim, as EFAs em Minas Gerais, tornando o ano de 1990, um período de grande implantação das escolas famílias agrícolas no estado.

Atualmente a maior parte das Escolas Famílias Agrícolas mineiras se encontram na região do Vale do Jequitinhonha, local de maior índice de pobreza de Minas e que vem sendo castigado pelo desenvolvimento desigual da agricultura e pela seca cada vez mais frequente.

Segundo a secretária de Contabilidade da AMEFA, Vanessa Barcante Iota, hoje, as 18 famílias agrícolas mineiras atendem cerca 954 alunos, sendo 457 alunos no Ensino Fundamental e 497 do Ensino Médio, com idades entre 11 e 20 anos.

De acordo com a presidente da associação, D. Faustina, cada escola atende em média de 35 a 100 alunos, em grande parte filhos de pequenos agricultores, de assalariados agrícolas e de assentados rurais. “As EFAs trabalham direto nas bases, assim a agricultura familiar fica fortalecida, os povoados pequenos, os jovens rurais, aqueles que tem menos condições, todos tem acesso a educação”, afirma Faustina.

As escolas famílias agrícolas trabalham com a pedagogia de alternância, onde alia-se a aplicação dos conhecimentos adquiridos na escola com a vivência meio familiar. Desse modo, o conteúdo aprendido durante as aulas é trabalhado juntamente com a realidade em que o aluno vive.

“É um processo que alia a teoria à prática”, afirma Vanessa. Assim, o aluno passa 15 dias do mês na escola e os outros 15 dias junto com a família, passando os conhecimentos adquiridos aos outros membros da família.

“Para ser aluno de uma EFA o jovem tem que ser filho de agricultores e passar por um processo seletivo, que varia conforme a realidade de vida e a escola em que deseja se inserir”, explica a secretária.

4 comentários:

  1. essa escola familiar agrícola é só para filhos de produtores rurais? e quais são as matérias? espero a resposta ! obrigado!

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  2. Sim as materias a mas e agricultura zootecinia engenharia rural

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  3. Sim as materias a mas e agricultura zootecinia engenharia rural

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