sábado, 20 de fevereiro de 2010

No verdadeiro ninho não há estranhos

Segundo o site, ABC da saúde, a loucura é uma condição da mente humana caracterizada por pensamentos e atitudes consideradas anormais pela sociedade. Como por exemplo, ouvir vozes, enxergar pessoas, pensar que está vivendo uma situação que nunca existiu etc.
Freud, fundador da psicanálise, define a loucura como sendo a incapacidade que o indivíduo tem de se adaptar às normas do ambiente em que se encontra.

E é esse o tema central do filme Um estranho no ninho, lançado nos Estados Unidos, em 1975 e dirigido por Milos Forman.

Ele conta a estória de um homem preso por pedofilia ( McMurphy), acusado de abusar sexualmente de uma menina de 15 anos, e que com a intenção de fugir da cadeia resolve se passar por louco, indo parar em um hospício.

Porém, ao adentrar no local e diante de seu contato com os pacientes de lá, McMurphy não os vê como loucos, mas sim como marginais da sociedade, que aprenderam a ser e agir como malucos por terem sido excluídos do convívio humano. E, por isso, resolve ajudá-los a acreditarem mais neles próprios.

Com isso, diferentemente do que pode parecer, o estranho no ninho, que dá título ao filme, não é o personagem principal, Murphy, e sim, todas aquelas pessoas que se encontram no hospício. Eles representam todos os estranhos no ninho que existem pelo mundo. Os estranhos de uma sociedade que dita regras e padrões e que não aceita o ser diferente, aquele que se recusa a seguir normas. Tratando assim, esses seres como loucos.

Um estranho no ninho, é muito bem produzido, tem qualidade técnica, de atuação, de iluminação, de efeitos etc. Além disso, por ser um drama, cumpre muito bem o papel esperado para esse tipo de gênero. Trata-se de uma estória comovente sem ser piegas e que é capaz de prender o espectador do início ao fim.

O filme é capaz de emocionar, indignar e trazer revolta dos espectadores por aquelas pessoas que estão no manicômio. Gente essa, que tinha tudo para ter uma vida inteira e normal pela frente, distante desse mundo triste do hospício, mas que foram impossibilitadas disso por terem ido parar ali. Pessoas que não tiveram oportunidade de escolha, como todos nós temos, de decidir sua própria vida, sendo obrigadas a parar em um local que não gostariam.

Um estranho no ninho foi filmado em um hospício de verdade. Por isso, grande parte de seus elementos e aspectos, tais como o ambiente de confinamento, a tristeza presente, as histórias dos personagens realmente existem. E isso contribui para uma maior veracidade da estória contada.
Soma-se a isso o fato do filme ser uma crítica às instituições psiquiátricas americanas da época, e ao conservadorismo do partido Republicano dos Estados Unidos, que não aceitava os diferentes, mandando-os para manicômios ou hospitais, onde eram tratados rigorosamente, incluindo o tratamento de choque, tal como mostrado no filme.

Essa realidade toda do filme pode trazer uma angústia no público, que pode se incomodar com a forma como os pacientes eram tratados nesse tipo de local. Sempre de forma fria e impiedosa, sem abertura para um ato de carinho ou amor.

E durante toda sua trama, o filme vai deixando uma série de pistas que condizem com o isolamento e a tristeza presentes naquele manicômio. Porém, muitas vezes esses aspectos podem não ser percebidos por alguém que vê o filme pela primeira vez.

Podemos citar, por exemplo, a sensação passada pelas paredes brancas do hospital. Elas podem, no início, passar a sensação de que apenas fazem parte do cenário, sem nada de mais, porém ao prestar mais atenção percebemos que o branco serve, na verdade, para transmitir justamente a sensação de isolamento e de confinamento que as pessoas que vivem ali passam.

Somado a isso, encontra-se também a trilha sonora. Ao ser escutada pela primeira vez, passa o sentimento de que é apenas um complemento do filme. Entretanto, ao ouvi-lá novamente, percebe-se que o seu intuito também é o de contribuir para a sensação de tristeza presentes naquele manicômio. Os figurinos e o uso excessivo do branco ajudam a passar a mesma sensação.

E são essas várias pistas, somadas a montagem do filme, muito bem feita, que permitem com que a estória do filme tenha uma continuidade. Um enredo todo completo, que dá vida a todas as atuações e não se perde nem mesmo com a mudança de uma cena para outra. Todas elas se encaixam perfeitamente como se tivessem sido realizadas em sequência, e sem parecer sem sentido ao espectador.

Assim, podemos dizer que Um Estranho no Ninho é completo e soube fazer um tema, aparentemente comum, virar algo que atrai e chama a atenção, sem ser cansativo e desviar a atenção do público.

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