quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Bullying: ameaça para crianças e adultos

O bullying apesar de muito comum, principalmente nas escolas brasileiras, é um assunto muito pouco comentado, diz a psicóloga Samara Oliboni. Muitas vezes confundido com indisciplina, o bullying não tem tradução literal, porém é caracterizado pela violência entre pessoas de um mesmo status social para provar poder, completa a profissional.

“Eu passei por isso na 6ª série, começou com uma simples brincadeira, eu achava até achava graça, mas a coisa foi ficando séria”, diz Ana Luísa, 15 anos, vítima de bullying. “Depois, se tornou algo horrível, me tratavam como se eu tivesse uma doença contagiosa, falavam que eu era um lixo e o pior é que eu acreditei. Só hoje eu sei o quanto eles eram ridículos, mas ainda assim isso me faz mal”, complementa.

Segundo Samara, a violência se inicia com apelidos pejorativos, passa pela agressão física e pode chegar até ao abuso sexual. É importante aos pais e professores ficarem atentos a presença do bullying nas crianças.

Ela diz ainda que “Muitas vezes, os pais vêem a questão como uma simples brincadeira ou desobediência. Porém, o assunto é sério e pode levar ao suicídio ou ao assassinato”.

Luma Guedes, estudante, 18 anos, ex-vítima de bullying diz: “Quando eu tinha 12 anos, descobri que era portadora de Lúpus, uma doença crônica que não é contagiosa de nenhuma forma. Mas, na escola em que eu estudava os alunos passaram a me discriminar por isso. Eles deixaram de ser meus amigos, evitavam me emprestar as coisas, me xingavam, me chamavam de doente, contagiosa, inclusive pela Internet. Fui até ameaçada de morte. Estava com medo de ir a escola, de mostrar minha cara, de contar para meus pais e principalmente, de ser quem eu sou”.

A estudante completa: “Aos poucos minha vida está se transformando, o tempo cura. Hoje, eu faço Direito na Universidade Católica, estou indo pro 4ºsemestre, trabalho. Meu problema de saúde nunca me afetou em nada, estou praticamente curada, mas as dores e as marcas do bullying, com certeza, ninguém cura. Não tem como eu não lembrar e não sentir raiva, dor. É inexplicável”.

A psicóloga enfatiza que os autores são geralmente aqueles com temperamento mais agressivo e que necessitam ser o centro das atenções dos demais colegas. Assim, passam a ridicularizar alguns para demonstrar poder. Ao contrário, os alvos do bullyng são os mais tímidos, aqueles com melhores notas e que de alguma forma não tem as mesmas características do grupo.

“Entre a 5ª e 6ª série do ensino fundamental, a situação era horrível, mas sofri com o problema até 1999. Nessa época havia na minha sala um grupinho que me cercava e humilhava de todas as formas possíveis, desde pressões psicológicas até agressões físicas e verbais, conta Luiz Ribeiro, 22 anos. “Tudo isso, porque eu era um aluno quieto e disciplinado, que não gostava de transformar a aula numa zona”, completa ele.

Alguns sintomas causados pelo bullyng são a dificuldade de se impor frente ao grupo, a depressão, ansiedade, dores de cabeça ou de estômago, baixo rendimento, suor e urina em excesso, aponta a psicóloga.

Apesar de mais comum entre as crianças em fase escolar, o bullyng também ocorre em adultos, caso de H.C, de 40 anos, que não quer se identificar “ Fui vítima de bullyng no meu trabalho, aos 38 anos, nem sabia que isso existia em adultos” , diz ela. “Tive uma mega depressão com síndrome do pânico, evitava sair à rua, não tinha ânimo para nada. Foi doloroso, cruel”, complementa.

Samara afirma que, tanto o alvo quanto o autor do bullyng podem sofrer futuros traumas. A vítima pode ter problemas de relacionamentos e perder a autoconfiança. Já os autores, podem se tornar anti-sociais, adotando atitudes agressivas no ambiente familiar ou social, podendo inclusive se envolver com o uso de drogas.

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