quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

João Carlos: uma verdadeira lição de Vida


Sexta-feira. 04 de dezembro de 2009. Cidade de Belo Horizonte, Minas Gerais. 19 horas. Carros passando, gente correndo, sombrinhas para todo lado. Chuva, muuuuita chuva. E é durante este tumulto que encontramos o menino José Carlos da Silva, 12 anos, vendendo balas na rua.

Aproximo-me e pergunto se ele tem que estar ali, mesmo com toda aquela chuva. “Sabe o que é moça? É que tenho que sustentar minha família e se for esperar a chuva passar não vou conseguir vender todas as minhas balas até a hora de voltar pra casa”, responde. “Estão todos me esperando”, acrescenta o garoto.

E entre uma oferta de bala e outra vai me contando a sua história....João, apesar de sua pouca idade, trabalha desde os oito anos para ajudar nas despesas de casa.
A mãe lava e passa roupa para fora. Tem quatro irmãos, duas meninas gêmeas de seis anos, um menino de cinco e outro de quatro anos.

O pai fugiu quando a mãe estava grávida do último filho, já fazem quatro anos. “Disse que ia tentar a vida em São Paulo e mandar o dinheiro pra gente”, conta o menino. E acrescenta, com ar de tristeza, “Mas descobrimos que foi morar com outra mulher. Aposto que nem lembra mais da gente”. “Foi aí que tive que começar a trabalhar”, diz. “Já fiz de tudo: fui engraxate, ajudante de pedreiro, trabalhador de padaria. E agora vendo balas. É o que ganha mais”, explica ele.

E é somente depois de meia hora de nossa conversa que João realiza uma venda... “Quatro balas custam dois reais”. Todo feliz, agradece a senhora que comprou em sua mão.
Ao ser perguntado se é sempre tão difícil conseguir fazer uma venda ele responde “Você não viu nada. As pessoas não gostam muito de comprar balas, ainda mais de criança. Acham que somos meninos de rua e não ajudam. Em dias de chuva como esse é ainda pior. É uma correria só, ninguém quer ouvir a gente”, afirma. “Só que mesmo assim é com as balas que consigo tirar o maior dinheiro”, finaliza.

19:30. A chuva vai parando aos poucos. O garoto está todo molhado, mas mesmo assim vai oferecendo as balas a quem passa com uma felicidade que contagia quem o observa. “Balinha baratinha...duas por um real. Vamos chegar pessoal”. É assim que vai atraindo as pessoas.

De pouquinho em pouquinho vai conseguindo fazer as suas vendas. E com todo o prazer, como se tivesse ganhado um grande prêmio, vai falando “uma bala para o senhor, outra para a senhora, uma aqui para o garotão”.
21 horas. João olha pra mim e diz “Prontinho, acabei de vender todas as balas por hoje. Hora de voltar para casa. Quer me acompanhar?”. Diante de minha resposta positiva vamos andando até a sua casa.

No caminho ele me conta histórias de sua vida, de seus medos, de seus sonhos. Um deles, em particular, me chama a atenção. “Quando eu crescer quero ser médico, para ganhar muito dinheiro e poder ajudar todas as crianças de rua do Brasil”, diz o menino.

E antes que eu falasse qualquer coisa, ele prossegue “Eu sei que você vai dizer que é muito difícil, que eu não tenho chances. Só que não é impossível, por isso que estudo tanto. Pode perguntar lá na escola. Minhas notas são as melhores da minha turma”. Eu, sem palavras diante daquela afirmativa, apenas esbocei um sorriso.

Depois de 40 minutos de caminhada, chegamos a sua casa. Lá, o menino me apresenta à sua mãe e seus irmãos. Todos se alegram com nossa chegada. Antônia, uma das gêmeas logo se oferece para fazer o café.

Enquanto isso, Dona Neusa, a mãe de João, vai fazendo os elogios a seu menino. “Não sei o que seria da minha vida sem ele. É um menino de ouro, tão responsável e obediente. Não me dá um pingo de trabalho”.

E logo começa a chorar. Entre lágrimas me segreda que não queria que nada fosse assim. “Queria que meus filhos pudessem só estudar e brincar, igual às outras crianças. Não quero que eles fiquem igual a mim, que não sei ler e nem escrever, tendo que fazer bicos para poder sustentar a casa”.

O café chega e o clima de tristeza é quebrado. As risadas e as brincadeiras vão tomando conta da noite. Nem vejo a hora passar. Quando assusto já são 23 horas. É hora de ir embora. Eles precisam descansar, para começar tudo de novo no dia seguinte...

Sim. O outro dia é sábado! Porém, isso não diminui o ritmo da família. Eles acordam às 5 horas da manhã e têm rotina pesada.

Os mais novos, que trabalham somente aos sábados, vão para a feira ajudar os vendedores de frutas e verduras em troca de gorjetas. A mãe os deixa lá e depois vai passando nas casas das famílias para recolher as roupas, que deve lavar e passar. Já João...bem, esse vai vendendo as suas balas, aqui e acolá. Nas ruas, nas praças, na porta de supermercados e lojas.

E com isso, mesmo sem saber, o garotinho vai deixando em nós a esperança e a alegria de viver, de alguém que mesmo tão novo e com tantos problemas, não deixa nunca de sorrir e de acreditar no amanhã.

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