quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER: AMEAÇAS E TORTURA


Apesar de ocorrer com freqüência em nossa sociedade, o tema violência contra a mulher ainda é considerado um tabu, afirma a psicóloga Ana Cristina. A violência é qualquer forma de constrangimento ou coação, que vai desde a violência verbal até atos de agressão física como socos, pontapés e estupros, completa ela.

“A violência que sofri foi a menor de todas as agressões. Sofri a violência moral e psicológica de forma muito intensa e dolorosa na qual levo as seqüelas até hoje”, diz Fabiana Mene,estudante,25 anos, ex-vítima da violência. Vivi sete anos com um homem, aparentemente dócil, até em excesso, mas que me agredia verbalmente sob efeito do álcool. Hoje sei que isso era uma desculpa para ele fazer tudo o que queria”, complementa.

Segundo Ana, a violência geralmente vem de pessoas bem próximas as mulheres, principalmente os maridos ou parceiros sendo os seus principais motivos ciúmes, insegurança e medo de perder a pessoa amada.

Cíntya Veiga, assistente social, 33 anos, diz “Conheci meu agressor aos 18 anos e já na fase de namoro ele apresentava sinais de ser um homem violento, tinha por mim um ciúme doentio. Fomos morar juntos em 1988 e as agressões continuaram, com ele sempre colocando a culpa em mim, pelo fato de sentir-se inseguro e acabar perdendo a cabeça”.

A psicóloga enfatiza que a violência contra a mulher não está restrita a um único meio, ela não escolhe raça, idade ou condição social. Porém, geralmente as pessoas de maior poder aquisitivo tem mais chances de se calar por vergonha ou por medo do que os outros irão pensar delas.

“Tinha meu próprio negócio, uma situação econômica razoável e sustentava meu ex-marido, que na época estava desempregado. Apesar das agressões constantes não tinha coragem de denunciá-lo por medo do que a repercussão do caso poderia causar em minha vida”, é o que conta A. C, administradora, de 38 anos, que não quer se identificar.
Cíntya, que viveu a mesma situação, conta que “a minha vida material era razoavelmente confortável e moralmente um inferno. Escondia de minha família que era agredida e uma vez contei para a minha mãe que aquela "mancha roxa" em meu olho era pelo fato de eu ter deixado cair a chave da porta e ao levantar-me para colocar de volta na fechadura, havia machucado o rosto na própria fechadura”.
A violência não envolve somente a mulher agredida, mas acaba por envolver toda a família e pessoas mais próximas, como os pais, irmãos e até mesmo os filhos, que são os mais prejudicados, aponta Ana.

A. C afirma “Meu filho, de seis anos não entendia porque todos os dias eu aparecia com manchas roxas pelo corpo, ele não sabia o porquê do papai bater tanto na mamãe. Várias vezes eu o peguei, depois de uma briga com meu ex-marido, chorando sozinho no quarto e quando o perguntava o motivo, ele me respondia: eu não gosto de ver o papai batendo na senhora, porque ele faz isso?

Ela completa: “Isso me doía e dói até hoje, saber que não bastava eu estar sofrendo, mas que meu filho também sofria comigo”. “A maioria das mulheres não denuncia seus agressores por medo e falta de informação”, diz Carolina Kawauchi, assistente social do Tecle Mulher, de ajuda a mulheres vítimas de violência.

É o caso de Cíntya “ Quando fui a delegacia denunciar meu agressor, me senti humilhada, pois não imaginava que teria que expor a minha vida íntima daquela forma. Temia ser ridicularizada pelos policiais, mas enganei-me totalmente, pois fui atendida por mulheres que me acolheram e me trataram com dignidade e respeito”. Acrescenta ela “Por isso, sou a favor da lei Maria da Penha é um ganho enorme para nós mulheres”.

O inspetor de polícia Mauro Guimarães afirma que com essa lei o crescimento do número de denúncias de violência contra as mulheres aumentou consideravelmente. “Atualmente estamos recebendo 15 denúncias de violência diariamente, 60% a mais do que antes da lei ser sancionada”, diz ele.

“Me calei por tempo demais, mas depois da lei Maria da Penha me senti mais segura e resolvi procurar a justiça para denunciar as agressões. Atualmente, espero a audiência”, afirma Fabiana.

Carolina explica que com a lei as mulheres se sentem mais protegidas e passam a acreditar que realmente o seu caso vai ser resolvido, por isso o número de denúncias aumentou tanto desde sua criação.

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