quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Muita gente eles eram
Crítica do livro Eles eram muitos cavalos


O nome do livro escrito por Luiz Rufatto Eles eram muitos cavalos pode sugerir ao leitor que se trata de uma história sobre cavalos, hipismo etc. Porém diferentemente do que pode parecer ele se refere a uma cidade: São Paulo.

Neste livro são contadas histórias da vida na metrópole, mas não no sentindo de mostrar a cidade apenas como um lugar qualquer que tem engarrafamentos e vários problemas. E sim no sentindo de realmente decifrar o local expondo-o como ele é na sua realidade.

A obra relata a cidade como um todo, com sua diversidade de pessoas, de vários cantos do país, de todos os jeitos e classes sociais. Nessa metrópole o que existe é o anonimato. Ninguém tem nome. Qualquer pessoa é apenas mais uma na multidão.

E Luiz Rufatto soube explorar como ninguém essa vida de São Paulo. Em 69 contos o escritor retrata a cidade usando às vezes poesia, às vezes contos, outras prosa, porém sempre com a intenção de mostrar como é viver neste local. As histórias são sempre recortes da vida das pessoas.

E é através desses fragmentos da biografia humana que a existência em São Paulo é desvendada. Aparecem histórias de crianças roídas por ratos em lugares imundos, seres humanos assassinados em sequestros, pedintes, famílias inteiras que vivem apertadas em pequenas casas, os medos e os sonhos de cada um etc.

Cada conto é um pedacinho da vida dos milhares de indivíduos que moram no local. E a mudança de uma narração para outra nos dá a entender a correria que é esse dia-a-dia de São Paulo. Ninguém se encontra ou se conhece.

Apesar de viverem em um mesmo lugar um não tem conhecimento do outro e das alegrias e tristezas pelas quais cada ser passa todos os dias.

Essa gente toda, que tem sua história desvendada por Rufatto, não é conhecida por nós, apenas sabemos que eles existem. Estão lá. Mas ninguém sabe seu nome ou como é sua vida. Os problemas de cada ser humano são indiferentes para os outros. Muitos chegam e vão embora e ninguém jamais sabe de sua existência.

O que torna esse livro diferente é que apesar dos contos serem muitos eles são prazerosos, bons de ser ler. Não são cansativos, já que em cada passada de página uma nova história ganha espaço e vai sendo contada. E tudo isso se passa em um único dia, 09 de maio de 2000.

Nove anos se passaram desde essa data e a loucura da cidade continua da mesma forma. Portanto, o livro é atual, é singular, simplesmente pelo fato de não perder sua validade nem mesmo com o passar do tempo. Permanecerá para sempre sendo o presente da vida daquela gente de São Paulo. E nós seremos meros expectadores de tudo o que acontece.



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